Anúncio do projeto no Brasil foi realizado no seminário conjunto 'Brasil e Unitaid - parcerias atuais e perspectivas futuras' nesta sexta-feira (foto: Peter Ilicciev)

Unitaid e Fiocruz vão implementar PrEp injetável contra o HIV no Brasil

No Brasil, o projeto terá como público-alvo os grupos mais vulneráveis à infecção pelo HIV
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A Unitaid, agência global de saúde ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), vai financiar a implementação do projeto de implantação da Profilaxia Pré-exposição (PrEp) Injetável no Brasil, utilizando o Cabotegravir de ação prolongada.

Considerada a mais recente inovação para prevenção do HIV, a PrEP Injetável se mostrou mais eficaz que a PrEP oral diária na redução de risco de infecção pelo vírus com apenas seis injeções por ano.

O projeto será coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) em parceria com o Ministério da Saúde. O anúncio foi feito durante o seminário conjunto Brasil e Unitaid – parcerias atuais e perspectivas futuras, no auditório do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) nesta sexta-feira (18). A iniciativa ocorrerá também na África do Sul.

No Brasil, o projeto terá como público-alvo os grupos mais vulneráveis à infecção pelo HIV: homens que fazem sexo com homens e mulheres trans, de 18 a 30 anos. O Cabotegravir de ação prolongada propicia oito semanas de proteção contínua contra a infecção pelo vírus por meio de uma única injeção intramuscular. Isso fornece uma alternativa à PrEP oral, que pode reduzir o risco de infecção pelo HIV em 99%, mas apenas quando tomada conforme prescrito: uma vez ao dia ou antes e depois do sexo no esquema PrEP 2+1+1 (neste caso, apenas para homens cisgêneros).

Já na África do Sul o alvo serão adolescentes e jovens mulheres, que têm sido infectadas em taxas desproporcionalmente altas. Na África subsaariana, seis em cada sete novos casos de infecção em adolescentes ocorrem em garotas, e mulheres jovens têm o dobro do índice de contaminação em relação a homens jovens.

Integração com sistema público de saúde

Nos dois países, a ideia é integrar o Cabotegravir aos programas nacionais de saúde, gerando dados que apoiarão sua implantação global, explicou Mauricio Cysne, diretor de Relações Exteriores e Comunicação da Unitaid, durante o seminário. Carmen Pérez Casas, gerente técnico sênior do Departamento de Estratégias da Unitaid, por sua vez, destacou a necessidade de manter uma prevenção sustentável contra o HIV. A organização alerta que é necessário assegurar um amplo acesso ao Cabotegravir de longa duração, de forma que seja batida a meta da ONU de alcançar 95% das pessoas com risco de infecção em 2025.

Para Beatriz Grinsztejn, chefe do laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), que coordenará o projeto, “a PrEP com com Cabotegravir de longa duração (CAB-LA) é uma estratégia nova e poderosa que pode realmente fazer a diferença no controle da epidemia de HIV/Aids”.

A PrEP injetável pode ser também uma solução para os desafios que os usuários enfrentam para tomar pílulas regulamente, o que reduz o impacto da PrEP oral. O novo método também ajuda a mitigar o medo de que os comprimidos sejam interpretados como tratamento do HIV e façam com que o usuário sofra estigma, discriminação ou violência por parceiro íntimo como resultado. Apesar da alta proteção que a PrEP oral pode fornecer, a absorção tem sido lenta.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, lembrou a participação do Brasil na criação da Unitaid e destacou que o novo projeto é uma continuidade de uma série de ações para a prevenção do HIV que vêm sendo desenvolvidas. “Esses US$ 10 milhões que serão investidos trarão um forte impacto para o Brasil e a África do Sul”, disse.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ressaltou que “graças aos investimentos da Unitaid, comunidades no Brasil com taxas desproporcionalmente altas de HIV estarão entre as primeiras do mundo a se beneficiar desse novo tratamento preventivo”.

Projetos conjuntos

O seminário apresentou projetos em andamento e perspectivas futuras, no que foi definido pelo vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger, e Cysne como “uma relação amadurecida”. Criada há 15 anos, a Unitaid financia oito projetos no Brasil, dois deles com a Fiocruz: o CUIDA Chagas e o Projeto para Implementação da Profilaxia Pré-exposição ao HIV no Brasil, no México e no Peru (ImPrEP), que teve a sua extensão assinada. Ambos os projetos são ligados ao INI.

Brenda Hoagland, coordenadora do ImPrEP, contou que uma pesquisa online com o público-alvo mostrou que no Brasil o interesse pelo uso de um medicamento injetável para a prevenção do HIV subiu de 42% em 2018 para 75% em 2021 – o que pode facilitar a adesão ao cabotegravir. O ImPrEP conta com um orçamento total de 26 milhões.

Sobre o CUIDA Chagas, a principal investigadora do projeto, Andrea Silvestre, definiu a enfermidade como uma doença negligenciada, que atinge as populações mais vulneráveis e que se confunde com a própria história da Fiocruz. Ela destacou a necessidade de prevenir a transmissão congênita do mal de Chagas, lembrando as dificuldades de acesso a diagnóstico e tratamento.

O CUIDA Chagas envolve quatro países: Brasil, Bolívia, Paraguai e Colômbia. A Unitaid financia US$ 15 milhões e o Ministério da Saúde brasileiro entra com US$ 4 milhões. O objetivo é acelerar o diagnóstico, agilizando o tratamento, e tendo como público-alvo mulheres em idade fértil, filhos e familiares. O projeto envolve 32 municípios nas quatro nações. “Nesses países, a implementação do programa deve gerar uma economia de US$ 15 milhões de dólares”, avaliou.

Krieger, por sua vez, lembrou que novas parcerias poderão surgir a partir da escolha da Fiocruz para hub da plataforma de mRNA, na qual a mesma base pode ser utilizada para várias enfermidades. E acredita que novas propostas de colaboração poderão ser apresentadas em breve.

Para Cysne, “houve uma evolução na parceria” com a Fiocruz, ancorada no Ministério da Saúde. Ele lembrou que há seis anos algumas colaborações enfrentavam dificuldades devido à dependência do país à importação. “Hoje isso mudou, tanto em termos de Covid-19 quanto em outros elementos”. “É muito importante que o Brasil, como no caso da PreP, mantenha essa liderança em saúde global”, disse Cysne, lembrando que os sucessos aqui poderão ser replicados em outras nações.

Além de Nísia, Krieger, Cysne e Carmen na mesa, o seminário contou com a presença do ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão e de Jorge Bermudez, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e ex-diretor da Unitaid, além de outros integrantes da Fiocruz.

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