Quando eu era criança a televisão era em preto e branco. As fotos eram em câmeras analógicas. Os vídeos caseiros eram gravados em fitas VHS. Não existiam aparelhos celulares. Nos comunicávamos por cartas. Até o telefone era distante do cotidiano das pessoas comuns. É tão estranho lembrar disso. Parece que foi no século passado. Opa! E foi mesmo!
Ao parar para pensar em como a tecnologia avançou nos últimos anos, me dá até agonia. Sou da época em que até para tirar fotografia era difícil. Ainda mais sendo de família humilde. E tinha que usar, muito sabiamente, as 24 poses oferecidas pelo rolo fotográfico. E quando a foto saía desfocada? E quando todo rolo ficava avermelhado? Ou, simplesmente, queimado. Toda a memória, que era para ter sido eternizada, evaporava.
Lembro da minha irmã caçula, num vídeo familiar, perguntando se filmava “por esse buraquinho aqui”, colocando o dedo na lente. Hoje, ao ver a filha dela, minha sobrinha mais nova fazendo selfies e jogando no status do WhatsApp, percebo os mesmos trejeitos numa forma de “diálogo” totalmente inacreditável para uma criança da década de 80.
Essa sociedade digitalizada, sem tempo para nada, comendo fast food, sem interação social perde muita coisa. O contato físico. A memória olfativa. As mãos dadas numa tarde chuvosa. Tudo tão corrido. Tão acelerado. Tão empobrecido de conteúdo. O que mais me dói e achar que hoje estaria vivendo que nem os Jetsons, famoso desenho que vislumbrava um futuro dos anos 2000, mas a sensação é que teremos que usar o carro dos Flinstones, cujo combustível eram os pés, por causa da gasolina estar quase R$8,00.
Flávia Rocha é jornalista
Comentários estão fechados.