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Petrópolis,30/01/2025

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'Finde mundo': contemplado pelo Prêmio Carolina Maria de Jesus, livro de poesia da dramaturga Lígia Souto reflete sobre finitude, cotidiano e política

Publicada pela editora Patuá, obra marca a estreia literária da atriz, dramaturga e roteirista paulistana


'Finde mundo': contemplado pelo Prêmio Carolina Maria de Jesus, livro de poesia da dramaturga Lígia Souto reflete sobre finitude, cotidiano e política Foto: Divulgação
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Encarar o fim como fato e possibilidade e, ainda assim, seguir a vida. É essa inquietante dualidade que encontramos em “finde mundo” (164 págs.), obra de estreia na poesia da atriz, dramaturga e roteirista Lígia Souto, publicada pela editora Patuá.  

Contemplada, em 2023, pelo Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres (MinC), a obra conta com a caligrafia da autora e poemas que brincam com a informalidade, além de paratextos assinados pelo escritor e jornalista Leo de Sá Fernandes. 

“finde mundo” divide-se em seções que representam os meses do ano, partindo do cotidiano para abordar angústias relacionadas com a finitude e, a partir dessa exposição do dia a dia, inseri-las na contemporaneidade de maneira crítica e dotada de significados subjetivos e também políticos. É nesse sentido que o prefaciador Leo de Sá destaca que a força motriz de Lígia em “finde mundo” parece a mesma da pergunta do filósofo e crítico cultural britânico Mark Fisher no subtítulo de seu livro ‘Realismo Capitalista’: “É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?”

Ao refletir sobre sua obra, a autora resume: “‘finde mundo’ parte da perspectiva de um eu-lírico que aguarda, e até anseia, pelo fim de tudo - e tem que lidar com a realidade implacável da vida que continua. Juntos, os poemas traçam um calendário do cotidiano de quem vive, dia após dia, mês após mês, a vida na ansiedade da espera e se pergunta ‘o que fazer com o tempo que ainda tenho nas mãos? o que sentir?’” E essa pergunta, diante da indagação filosófica de Mark Fisher, ganha ainda mais dimensões. 

Para Lígia, que escreve desde a alfabetização, ter sua estreia literária legitimada por um prêmio nacional representa um reconhecimento de seu ofício como escritora. Ela conta que suas principais influências para escrever e se comunicar foram Ana Cristina César, Paulo Leminski e José Saramago, e destaca que “A teus pés”, de Ana C., foi uma referência para a escrita e também para a estética do seu livro de poesia. Nele, a reflexão parte de dentro e ganha novos contornos quando os poemas são lidos em conjunto. Assim, a casa, o quintal e os pensamentos do eu-lírico se expandem até conseguir englobar o resto do mundo, sobretudo o Brasil, como cenário do caos. 

Segundo o prefaciador da obra, a casa e o quintal tornam-se o espaço onde a sujeita-lírica pousa o seu olhar poético e inconformado: “As notícias do fim do mundo chegam e atravessam as paredes sem precisar de mensageiros, e ganham ares de horror causando uma atmosfera tensiva em alguns versos”. Mas, embora o “finde mundo” possa parecer um pouco trágico e assustador à primeira vista, o livro também se arvora de um tom humorado e encantador que perpassa os leitores. Leo destaca o quintal como a zona fronteiriça entre a casa e a rua, o público e o privado e o rural e o urbano, em que o fim se torna começo e resta ainda alguma esperança. 

"Acho que poderia dizer que o que fica do "finde mundo" é a certeza de que, mesmo que o mundo se acabe, o amanhã sempre chega", observa a autora, ao refletir sobre a obra.

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