75% dos brasileiros sentem os impactos das mudanças climáticas e 98% acreditam que país sofre consequências por ter desmatado a Mata Atlântica
Pesquisa revela otimismo com a recuperação ambiental, mas alerta para a necessidade urgente de ações efetivas diante da degradação do bioma em que vive 70% da população
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pela Fundação SOS Mata Atlântica, revela que 75% dos brasileiros já sentem os impactos das mudanças climáticas em seu cotidiano, enquanto 98% acreditam que o país sofre atualmente consequências do desmatamento da Mata Atlântica. Por outro lado, apesar do contexto de degradação, 78% dos entrevistados demonstram otimismo ao considerar possível a recuperação das áreas desmatadas do bioma.
A percepção dos efeitos climáticos é mais acentuada entre mulheres (63%) e moradores de capitais (64%). A importância de preservar a Mata Atlântica recebeu nota média de 9,6 em uma escala de zero a dez, com destaque para jovens de 16 a 24 anos, dos quais 94% atribuíram notas entre nove e dez.
Diretora de mobilização da SOS Mata Atlântica, Afra Balazina destaca a urgência de ações efetivas. “A população brasileira demonstra um entendimento claro sobre a relação entre a destruição ambiental e os impactos climáticos que vivemos diariamente. Este é, portanto, um momento muito importante para engajarmos ainda mais pessoas nesta causa, que é central para o nosso futuro coletivo. Precisamos ampliar ações de conscientização e envolver a população, sobretudo os jovens, que demonstram grande disposição para apoiar a conservação ambiental”, diz.
O levantamento também indica que 58% dos entrevistados consideram muito importante o papel das organizações que atuam na preservação ambiental, percentual que cresce especialmente entre os mais jovens (71%) e pessoas com ensino superior (64%). No entanto, 92% não possuem envolvimento direto com essas entidades – embora 40% manifestem interesse em participar de iniciativas ambientais, chegando a 47% entre os jovens de 16 a 24 anos.
Hoje, segundo o MapBiomas, restam 24% da cobertura florestal original da Mata Atlântica. Além dessa proporção estar muito abaixo do limite mínimo aceitável para sua conservação, que é, segundo estudo da revista Science, de 30%, as florestas naturais encontram-se restritas a espaços extremamente fragmentados (a maior parte não chega a 50 hectares) e, em 80% dos casos, estão em propriedades privadas.
A situação atual vai na contramão de importantes referências internacionais que – pela conservação de sua rica biodiversidade e de seu potencial no combate às mudanças climáticas – apontam a Mata Atlântica como uma das prioridades mundiais para a restauração florestal. Mais do que isso, sua proteção e sua recuperação são fundamentais para a garantia de serviços ecossistêmicos em uma região que abriga 70% da população brasileira e responde por 80% da economia nacional.
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica, lembra que, para o Brasil cumprir os compromissos firmados no Acordo de Paris, é preciso alcançar o desmatamento zero em todos os biomas até 2030. “Além disso, estamos na Década da Restauração de Ecossistemas da ONU, que escolheu a Mata Atlântica como ecossistema-bandeira. O bioma tem, portanto, o potencial de ser um exemplo para o mundo. Restaurar a Mata Atlântica é uma forma de combatermos as crises ambientais e climáticas, além de garantir água, alimentos, saúde e bem-estar nas cidades”, explica.
A pesquisa entrevistou 2.010 pessoas com 16 anos ou mais em 112 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
COMENTÁRIOS