Debate com 58,9 mil menções aponta predomínio de posicionamentos contrários ao acolhimento de imigrantes em Roraima na rede, aponta FGV DAPP

Compartilhe
Compartilhar no facebook
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no pinterest
Compartilhar no twitter

A contínua e crescente chegada de imigrantes venezuelanos à Região Norte do Brasil, principalmente a Roraima, fez com que a agenda migratória, normalmente de pouco impacto no debate público brasileiro, ganhasse notável abrangência desde o fim de janeiro. Muito da ampliação desse debate, inclusive, foi reorganizado pelo contorno político do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro e pela acentuada polarização opinativa e eleitoral no país.

Verificou-se, no monitoramento de redes sociais da FGV/DAPP, predomínio geral de posicionamentos contrários ao acolhimento de imigrantes no estado, cuja capital Boa Vista enfrenta problemas logísticos e financeiros para recebê-los em dignas condições. Esta pesquisa identificou, entre 22 de janeiro e 19 de fevereiro, 58,9 mil postagens sobre a migração venezuelana ao Brasil, sendo 2 mil originadas de blogs com material noticioso/informativo (3,4%), 5,8 mil de sites de notícias (10%) e 51 mil publicações do Twitter (86,6%). Tal predomínio oposto à ampla recepção de venezuelanos, contudo, é bastante fragmentado, em função dos diferentes atores de influência que atuaram no debate, e tem argumentação crítica mais forte em relação ao governo da Venezuela e à situação emergencial da população do que em relação à questão migratória em si.

O gráfico abaixo ilustra a oscilação diária no volume de menções ao tema em Twitter, sites e blogs desde o fim de janeiro. O começo do aumento de debate na web coincide com dois eventos simultâneos: o desfile do Grupo Especial das escolas de samba do Rio, em particular a campeã Beija-Flor e a vice-campeã Paraíso do Tuiuti; e a viagem do presidente Michel Temer, durante o feriado de Carnaval, a Roraima. Até 09 de fevereiro, praticamente toda a discussão sobre Venezuela, no Brasil, repercutia tuítes com notícias sobre a chegada de refugiados ao estado ou contestações políticas ao presidente Nicolás Maduro, que é associado fortemente aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Por isso, mais do que engendrar um debate específico sobre a situação dos venezuelanos em Roraima, o engajamento de atores nas redes sociais anterior ao Carnaval mantinha destaque ao matiz político do regime venezuelano, ainda como resultado do julgamento de Lula no fim de janeiro.

A partir dos desfiles e da visita de Temer a Roraima, o debate passa a incorporar, de forma centralizada, a conjuntura de chegada e recepção dos imigrantes na fronteira do país. Também com forte impacto de notícias que destacam a fome dos venezuelanos, a falta de alojamento e de serviços públicos no estado, a condução do tema se inverte: em vez do governo de Maduro orientar o apontamento de críticas políticas à imigração, o desafio migratório se sobrepõe como o eixo a partir do qual os diferentes grupos de oposição ao PT e à esquerda ensejam questionamentos partidários e ideológicos.

O pico de menções ao assunto foi em 13 de fevereiro, terça-feira de Carnaval, logo após o desfile das escolas do Rio. As alegorias da Paraíso do Tuiuti suscitaram grande impacto nas redes sociais, sobretudo entre grupos de apoio a Lula e aos governos petistas, em contraposição à agenda de Temer, e o desfile da Beija-Flor acentuou a interseção entre o Carnaval e a política social. Simultaneamente, diferentes veículos da imprensa deram ênfase aos múltiplos problemas em Roraima: o jornal “O Estado de São Paulo”, por exemplo, anunciou o aumento do efetivo militar no patrulhamento da fronteira e a declaração, por parte do porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), de que a situação na Venezuela é de proporção equivalente à do Mediterrâneo, que já dura alguns anos.

Outros veículos relevantes da imprensa repercutiram os mesmos tópicos, assim como episódios de xenofobia e violência contra os imigrantes em Roraima. O apresentador Milton Neves fez seguidos tuítes críticos ao acolhimento de venezuelanos, apontando como decorrentes da falência do governo Maduro. Políticos alinhados à direita também questionaram a recepção dos refugiados, com críticas às ações de Temer para gerenciar a questão e ao apoio de Lula e Dilma ao presidente da Venezuela.

Com isso, a organização dos grupos engajados no debate se fracionou entre atores próximos ao PT e a outros partidos de esquerda, que repercutiram os desfiles e os associaram à rejeição aos imigrantes, e os perfis da política, da imprensa e do entretenimento que reiteram a situação dos venezuelanos como resultado do fracasso de Maduro. Estes se dividem entre os opositores explícitos de Temer (alinhados a personagens como Jair Bolsonaro) e defensores da restrição à entrada de refugiados, mas sob o argumento da incapacidade de Roraima em receber tamanho volume de estrangeiros.

Confira o estudo completo aqui

Fonte: FGV

Compartilhe
Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no pinterest
Pinterest
Compartilhar no twitter
Twitter

veja também

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.